Os grupos de pesquisa brasileiros e sua relação com a Sociedade do Conhecimento

Todos os países, independente do grau de desenvolvimento de suas economias, têm no cenário atual de globalização generalizada o desafio de avançar em direção a sociedade da informação e do conhecimento. Mas para avançar nesta escala, é fundamental verificar as capacidades nacionais de formação de recursos humanos qualificados e de produção de conhecimento em temas relevantes para essa sociedade contemporânea.
Este argumento introduz a pesquisa realizada por Roberto Carlos dos Santos Pacheco, Flavio Bortolozzi, Alessandra Duarte Batista, Maria Angelica Jung Marques e Vivian Costa Alves, apresentada em um capítulo de livro ainda inédito e intitulado “Os Grupos de Pesquisa Brasileiros em Conhecimento e Inovação”. Neste trabalho, os autores avaliam a base nacional de grupos de pesquisa atuantes em temáticas afim às sociedades da informação e do conhecimento.

Por que verificar quantos grupos de pesquisa no Brasil trabalham com temáticas da Sociedade da Informação e do Conhecimento?

O principal objetivo do estudo dos autores é “verificar a parcela da comunidade científica e tecnológica do País que tem se dedicado a pesquisar temas centrais à Sociedade do Conhecimento”. Mas por que isso é importante?
Antes de responder a esta pergunta, vale comentar que em 2016 o mesmo grupo de pesquisadores – Pacheco, Bortolozzi, Marques, Batista e Alves – produziu um estudo no qual eles analisavam o panorama da pós-graduação brasileira em conhecimento, inovação e temáticas afins, avaliando os programas de pós-graduação que formavam mestres e doutores.
O estudo, publicado no capítulo de livro “A Pós-Graduação Stricto Sensu Brasileira em Conhecimento e Inovação”, que integrou a obra “Gestão do Conhecimento nas Organizações: Inovação, Educação, Tecnologia e Gestão”, revelou, entre outras informações, que pouco mais de 1% do total de programas de pós-graduação do País buscam formar mestres e doutores em temas da Sociedade do Conhecimento.
Na média, estes programas de pós-graduação têm uma trajetória bastante jovem – pouco menos de quatro anos de existência quando o estudo foi feito – e “contexto científico majoritariamente interdisciplinar”.
Com este novo trabalho o grupo de pesquisadores espera que a conjugação dos dois estudos contribua “para evidenciar o estado presente e, especialmente, os desafios nacionais no estabelecimento do capital humano e da produção de conhecimento diretamente relacionados a temáticas afins às Sociedades da Informação e do Conhecimento”.
Estes estudos são importantes como radiografia do estado atual, tanto da formação de mestres e doutores, quanto para identificar o perfil do trabalho dos pesquisadores que participam de grupos de pesquisa no Brasil em temas afins a Sociedade da Informação e do Conhecimento. Esta análise é fundamental para saber o quanto o País está ou não avançando nos temas que estão predominando em outros países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Como foi feita a análise dos grupos de pesquisa brasileiros

O primeiro passo do trabalho dos autores foi identificar e definir as temáticas de contexto para a Sociedade do Conhecimento. A escolha foi manter os mesmos temas do estudo anterior, relacionado aos programas de pós-graduação.
Para elencar os temas do primeiro trabalho, publicado em 2016, os autores adotaram a estratégia de partir dos termos “conhecimento” e “inovação” e, a partir das verificações sucessivas sobre a denominação dos programas, identificar outras temáticas que têm sido utilizadas no País para denominar a titulação de mestrado e de doutorado e que também guardam relação com as Sociedades da Informação e do Conhecimento.
Desta forma, foram definidas as seguintes temáticas que deram base para as análises de programas de pós-graduação e dos grupos de pesquisa:

  1. Conhecimento
  2. Gestão da Informação
  3. Gestão Organizacional
  4. Governança
  5. Inovação
  6. Propriedade Intelectual
  7. Sistemas de Informação

O segundo passo dos pesquisadores foi buscar no DGP (Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil) os grupos de pesquisa que apresentassem uma ou mais temáticas citadas anteriormente. Para chegar a esta relação, os autores utilizaram as temáticas como termo de busca no site do DGP. Este primeiro conjunto de dados resultou em um total de 1.229 grupos de pesquisa que apresentaram em seus nomes algumas das temáticas selecionadas.
O terceiro e último passo do procedimento de pesquisa consistiu na reorganização dos dados extraídos da busca inicial em um arquivo ampliado por variáveis de análise constantes no detalhamento dos grupos. Este detalhamento incluiu informações sobre a identificação do grupo; o seu endereço; pesquisadores, estudantes e técnicos participantes; e informação complementar como instituições parceiras, posse de equipamentos, etc.
Para preencher as informações de detalhamento dos grupos de pesquisa, os autores contaram com o apoio do Instituto Stela, que extraiu os dados complementares do DGP utilizando o serviço de extração de dados do próprio CNPq. Para chegar ao número final de grupos de pesquisa que fizeram parte da análise, os pesquisadores eliminaram as duplicações do primeiro conjunto de grupos e os grupos que tinham sido excluídos por seus líderes após a primeira extração dos dados.
Desta forma, a análise dos pesquisadores chegou ao número de 1.090 grupos de pesquisa que apresentaram um ou mais temáticas relacionadas com as Sociedades da Informação e do Conhecimento. Este número representa 3,4% do total de grupos mapeados no DGP quando a pesquisa foi realizada.

As características dos grupos de pesquisa relacionados com a Sociedade do Conhecimento no Brasil

Vale destacar algumas das conclusões obtidas pelo estudo dos pesquisadores. Em relação às temáticas de atuação dos grupos de pesquisa analisados, quase metade atua com a temática “inovação”. Em segundo lugar, aparece a temática “conhecimento”, como é possível observar no seguinte gráfico:
grupos-de-pesquisa-perfil-no-brasil
Analisando os grupos de pesquisa através de suas temáticas e a distribuição deles nas diferentes regiões do País, os autores concluíram que esta localização é “praticamente a mesma que a distribuição do total de grupos de pesquisa para as regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste”.
A maior mudança percentual envolve a comparação entre as regiões Sudeste e Sul. Os grupos do Sul ganham em importância quando são focadas as temáticas analisadas e na comparação com o número total de grupos existentes no País. Quando observamos apenas a totalidade dos grupos existentes, a região Sudeste responde por 43%, e a região Sul, por 23%. Mas em relação às temáticas da Sociedade do Conhecimento, a participação da região Sudeste cai para 38% do total e a região Sul aumenta para 28%.
Em relação à participação dos grupos com temáticas da Sociedade do Conhecimento por Estado, novamente há bastante semelhança “entre a proporção do número de grupos do Estado e do País tanto no total como nos grupos analisados”. A exceção fica com os Estados de Santa Catarina, do Distrito Federal e do Alagoas, que sobem quatro posições em relação ao total geral de grupos, com 115, 50 e 18 grupos atuantes em temas da Sociedade do Conhecimento, respectivamente.
Em relação à vinculação institucional, os 32,4 mil grupos no DGP estão localizados em 533 instituições, sendo que 249 destas instituições abrigam ao menos um grupo de pesquisa com temas afins à Sociedade do Conhecimento. Entre as IES que apresentam grupos nas temáticas estudadas pelos pesquisadores, vale destacar as Top 5, com o maior número destes grupos de pesquisa:

  1. UFSC: 45 grupos
  2. USP: 44 grupos
  3. UFRJ: 31 grupos
  4. UFF: 27 grupos
  5. UFPE: 27 grupos

Vale ainda comentar a distribuição dos grupos de pesquisa estudados em relação às grandes áreas do conhecimento. Do total de 1.090 grupos que fazem parte da amostra analisada, 45,9% faz parte da área das Ciências Sociais Aplicadas. Em seguida aparecem as áreas das Ciências Exatas e da Terra (14,2%), Ciências Humanas (13,9%) e Engenharias (12,2%).
Quando o contexto temático dos grupos de pesquisa é posicionado nas áreas de conhecimento da tabela do CNPq, o DGP apresenta um total de 82 áreas. Dessas, 65 áreas apresentam pelo menos um dos grupos identificados pelos pesquisadores, o que revela “o potencial multidisciplinar das temáticas da Sociedade do Conhecimento”. Destacamos, a seguir, as Top 5 áreas que mais apresentam grupos estudados pelos pesquisadores:

  1. Administração: 267 grupos (24,5% do total)
  2. Ciência da Computação: 121 grupos (11,1%)
  3. Educação: 73 grupos (6,7%)
  4. Ciência da Informação: 72 grupos (6,6%)
  5. Engenharia de Produção: 68 grupos (6,2%)

Entre as conclusões deste estudo, os pesquisadores afirmam que este último trabalho, analisado em conjunto com a pesquisa de 2016, revela “a emergência da nucleação da pesquisa e da formação no País em temas específicos de caracterização das sociedades contemporâneas”.
Observando que os programas de pós-graduação e os grupos de pesquisa são, respectivamente, unidades institucionalizadas dos atores de formação e pesquisa do País, os autores também afirmam que “em relação aos temas da Sociedade do Conhecimento, ambas unidades são jovens e de baixa representatividade nos universos totais de programas e grupos do País”.
Os pesquisadores terminam o capítulo do livro com a seguinte observação: “Os estudos abrem perspectivas para reflexões sobre a formação e a pesquisa no sistema brasileiro de CT&I focadas em temas da sociedade contemporânea. Além disso, com a ampliação dos serviços de acesso aos dados das agências federais, uma gama de outras análises pode ser viabilizada, como a inclusão dos programas e grupos que têm linhas de pesquisa com temas afins à Sociedade do Conhecimento, bem como a ampliação dos estudos para o nível individual dos programas e grupos (ex. pesquisadores e/ou estudantes integrantes de grupos e programas), correlações de trajetórias entre grupos e programas (ex. grupos como nucleadores de programas e vice-versa). Além de ampliar os critérios de análise utilizados, uma investigação igualmente oportuna deve incluir comparativos internacionais em relação à participação relativa de grupos de pesquisa e/ou programas de pós-graduação em sistemas técnico-científicos de outros países”.
 

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