Premiação por desempenho acadêmico e reconhecimento organizacional

desempenho-acadêmico

Planejamento e avaliação de desempenho acadêmico são atividades inerentes à gestão estratégica de organizações acadêmicas e de cursos, tanto de graduação como de pós-graduação.
Contudo, planejar e avaliar não é suficiente. A boa gestão estratégica requer reconhecimento ao trabalho e à trajetória de docentes e discentes. As práticas mais comuns de reconhecimento são voltadas ao mérito estudantil, mas são raros os exemplos de reconhecimento docente.
Talvez isso ocorra porque para reconhecer o empenho de um professor é necessário muito mais do que medir o desempenho docente. Valorizar o desempenho acadêmico vai além da mensuração da produtividade e produção intelectual. Esta mensuração, como sabemos, é parte do processual das relações com Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa.
Essas agências têm por missão acreditar, avaliar e fomentar o sistema de ciência, tecnologia, inovação e educação superior do País. Para isso, costumam usar métricas de produtividade, como quantidade e qualidade de artigos e livros publicados ou de projetos contratados. Não se pode negar a relevância da produção intelectual e da pesquisa/extensão em projetos na agenda de responsabilidades de docentes, mas essas estão longe de representarem a totalidade de contribuições que professores dão às organizações acadêmicas.
A trajetória que leva um aluno a concluir seu mestrado ou doutorado, por exemplo, requer uma gama de contribuições coletivas, que incluem os ensinamentos de docentes em sala de aula, a orientação e coorientação de seu trabalho de tese ou dissertação e, ao final, os examinadores das bancas. Somam-se a essas, ainda, as colaborações com os próprios colegas de curso.
Assim, para quem coordena cursos ou dirige organizações ou unidades acadêmicas, torna-se essencial não só aplicar métricas de avaliação mas, principalmente, promover o reconhecimento institucional que contemple as diferentes missões de um professor e, também, a identificação dos alunos-modelo no que se espera seja uma formação bem sucedida.

Desempenho acadêmico: o reconhecimento feito pelo EGC da UFSC

Recentemente coordenamos no Programa de Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) uma atividade que visou enfrentar este desafio.
Em março de 2017, como parte de suas atividades de planejamento estratégico, o EGC reuniu docentes, discentes e convidados em um Workshop de reflexão sobre seu futuro e de realização de atividades coletivas de definição de projetos estratégicos.
Foi neste contexto que a comissão organizadora do Workshop teve a ideia de resgatar a avaliação de destaque discente e, dado que o Programa estava completando 13 anos de trajetória, criar novas modalidades de reconhecimento acadêmico, especificamente voltadas aos docentes, premiando diferentes contribuições que marcaram a história do programa. Para tal, foram criados os seguintes prêmios:
 

Prêmios para DiscentesReconhecimentos de Docentes
·  Prêmios aluno Mestrado: reconhecimento à produção de mestrandos das turmas de 2013, 2014, 2015 e 2016
·  Prêmios aluno Doutorado: reconhecimento à produção de doutorandos das turmas de 2013, 2014, 2015 e 2016
·  Destaques de Mestrado: reconhecimento à produção qualificada de mestrandos das turmas de 2013, 2014, 2015 e 2016
·  Destaques de Doutorado: reconhecimento à produção qualificada de doutorandos das turmas de 2013, 2014, 2015 e 2016
·  Mestre Educador: reconhecimento pelo número de turmas ministradas pelo docente no período da avaliação
·  Mestre Orientador: reconhecimento pelo número de defesas concluídas de mestrado e doutorado no período da avaliação (últimos 5 anos)
·  Mestre Examinador: reconhecimento pelo número de bancas examinadoras em que o docente participou no período da avaliação
·  Mestre Referência: reconhecimento discente aos professores mais lembrados em relação ao trabalho que define o que é o programa de pós-graduação (conforme questionário encaminhado ao corpo discente)

Informações e critérios para reconhecimento acadêmico

Uma vez definidas as categorias, o passo seguinte foi buscar critérios que, ao mesmo tempo, considerassem quantidade e destacassem qualidade das diferentes ações de professores e alunos no EGC. Além disso, era necessário que os critérios pudessem ser analisados por informações objetivas e disponíveis no histórico do Programa.
Um exemplo foi o desejo de premiar o docente pelo número de vezes que foi citado nos agradecimentos dos trabalhos de tese e dissertação do EGC, mas isso requereria uma análise da totalidade de documentos, o que seria inviável ao pensar em 13 anos de história do Programa.
Assim, o grupo decidiu considerar critérios que pudessem ser verificados pelas informações constantes no sistema acadêmico da pós-graduação da UFSC (CAPG) ou na Plataforma Stela Experta© (que acessa a totalidade de currículos Lattes de docentes, alunos, egressos e pós-doutorandos do Programa).

Premiação Discente

O primeiro movimento de reconhecimento por desempenho acadêmico discente do EGC ocorreu em 2009. Além de prover um certificado do Programa a todos os concluintes, o EGC procurou reconhecer os alunos cuja produção intelectual discente se destacou em suas respectivas turmas e no curso como um todo, dado que a totalidade dos alunos deve ter um mínimo de produção intelectual para obter seu diploma.
Para a edição do prêmio discente de 2017 foi decidido que seriam premiados os alunos tanto pelo total ponderado de itens publicados como pelo destaque em produção qualificada. Para cumprir este objetivo foram contabilizados itens de produção bibliográfica e produção tecnológica com ponderação de 80% para a primeira e 20% para a segunda.
O cálculo da produção bibliográfica foi feito pontuando cada livro publicado com 40 pontos, cada capítulo com 25 pontos, cada artigo em revista científica com 25 pontos e cada trabalho publicado em anais de eventos com 10 pontos. A produção tecnológica foi contabilizada pelo número de programas de computador (20 pontos cada) e por patentes ou registros (80 pontos cada).
Para os prêmios de destaque discente pela produção intelectual foram considerados os parâmetros da área Interdisciplinar da Capes. Assim, o destaque foi para alunos de mestrado e doutorado com produção de artigos em periódicos colocados nos estratos mais qualificados (A1 até B2).
Tanto para os prêmios que levaram em conta o total de itens produzidos como para os destaques por produção qualificada o período de pontuação foi diferenciado de acordo com o ano da 1ª matrícula. Desta forma, foram premiadas as turmas de 2013, 2014, 2015 e 2016.

Reconhecimento Docente

Para o reconhecimento docente, decidimos buscar um novo olhar, que fosse além das avaliações de produtividade comuns a Capes, CNPq ou a editais de fomento. O objetivo foi reconhecer outras atividades do professor que são, também, muito relevantes e igualmente merecedoras de premiação, particularmente pela natureza de contribuição individual ao coletivo da pós-graduação. Para isso, o EGC criou cinco categorias de premiação: Mestre Orientador, Mestre Coorientador, Mestre Educador, Mestre Examinador e Mestre Referência.
As categorias “Mestre Orientador” e “Mestre Coorientador” visam reconhecer o trabalho docente de levar mestrandos e doutorandos à conclusão do curso. Em programas interdisciplinares como o EGC, a coorientação é bem mais do que um apoio colateral e a orientação tem o desafio adicional ao docente que é o de reconhecer o fato de que ele está orientando a formação de um “ímpar” e não um “par” em relação à sua própria trajetória, como ocorre nos cursos disciplinares.
Durante o evento que reuniu convidados, alunos e professores do EGC, cada categoria de reconhecimento docente foi apresentada para o público antes das homenagens serem feitas. Utilizando este recurso todos os participantes puderam conhecer melhor sobre a importância de cada uma daquelas funções que estavam sendo homenageadas. Confira os textos que precederam a entrega das categorias “Mestre Orientador” e “Mestre Coorientador”:
 

Homenagem MESTRE ORIENTADORHomenagem MESTRE COORIENTADOR
Em todo programa de pós-graduação, a atividade de orientação é um dos principais processos de condução do mestrando e do doutorando em sua trajetória de formação. Em Programas Interdisciplinares como o nosso, esta atividade se reveste de uma complexidade ainda mais especial. Afinal, orientadores de trabalhos interdisciplinares não formam pares, mas sim ímpares.
Orientar na interdisciplinaridade significa mais do que guiar. Representa ampliar, viabilizar e, também, aprender.
Nos últimos 4 anos, foram 180 defesas entre mestrado e doutorado, orientadas por 33 docentes diferentes. Desses, três professores se destacaram pela quantidade de vezes que ajudaram seus alunos a concluírem sua jornada. Gostaríamos de chamar, para receber nossa homenagem como “MESTRE ORIENTADOR” os professores:
Prof. FRANCISCO FIALHO
Profa. ÉDIS LAPOLLI
Prof. GREGÓRIO VARVAKIS
Esses mestres orientaram 17% de todas as teses e dissertações do Programa nos últimos 4 anos!
Por favor, uma salva de palmas de agradecimento!!!
Uma das formas mais efetivas de se conduzir a orientação em programas interdisciplinares está na colaboração de um segundo docente – o chamado “coorientador”. Coorientar é atuar decisivamente na definição de rumos, na viabilização, na delimitação e na realização do trabalho acadêmico. Coorientar é ter a humildade de, mesmo sem receber o crédito principal, ser decisivo na trajetória do aluno.
As recompensas são intangíveis e normalmente só vêm no longo prazo, com o aprendizado e com a rede formada pela colaboração. Mas hoje faremos diferente. Vamos não somente reconhecer, como agradecer a todos os 44 coorientadores de teses e dissertações do EGC do último quadriênio.
E, desses, gostaríamos de chamar para receber nossa homenagem como “MESTRE COORIENTADOR” os professores.
Profa. GERTRUDES DANDOLINI
Prof. GREGÓRIO VARVAKIS
Prof. PAULO MAURICIO SELIG
Esses mestres coorientaram 22% de todas as teses e dissertações do Programa nos últimos 4 anos!
Por favor, uma salva de palmas de agradecimento!!!

 
As categorias “Mestre Educador” e “Mestre Examinador” foram criadas para reconhecer a contribuição docente em outras duas atividades essenciais às trajetórias discentes: a oferta de disciplinas e o exame e revisão dos trabalhos finais apresentados em defesas de título.
Tanto a docência como a participação em banca costumam ser vistas como obrigações inerentes às atividades de um professor na pós-graduação. Além disso, é fato que elas são essenciais para que mestrandos e doutorandos encontrem uma trajetória formadora e de bons resultados.
Por serem obrigações para manter o vínculo de docente permanente na pós-graduação, tanto a docência em disciplinas como a colaboração em bancas acabam não sendo reconhecidas nas avaliações de agências de fomento ou mesmo na própria IES do Programa. No EGC, esses reconhecimentos visaram registrar a gratidão do programa àqueles professores que mais trabalharam na oferta de turmas e em participação em bancas. Confira os textos que explicam cada um destes trabalhos e que foram apresentados para o público que compareceu na entrega dos prêmios criados pelo EGC:
 

Homenagem MESTRE EDUCADORHomenagem MESTRE EXAMINADOR
Uma das principais missões do docente de pós-graduação ocorre em sala de aula. É nas disciplinas que o professor leva seus conhecimentos, não somente aos seus orientandos, mas a toda comunidade discente do Programa. Entre 2008 e 2016, por 808 vezes, os docentes permanentes, colaboradores e visitantes no EGC estiveram à frente de um plano de ensino para as turmas de mestrado e doutorado.
Para homenagear e agradecer a todos os professores do Programa por todo o conhecimento ofertado nessas ocasiões, gostaríamos de chamar os professores que mais ministraram disciplinas no EGC entre 2008 e 2016:
Prof. FRANCISCO A. FIALHO
Prof. CRISTIANO CUNHA
Prof. NERI DOS SANTOS
Esses mestres estiveram presentes em 21% de todas as turmas do Programa, em colaboração com outros colegas em cada disciplina que ofertaram.
Por favor, uma salva de palmas de agradecimento!!!
A trajetória de um mestrando e de um doutorando é repleta de momentos de colaboração. E justamente quando se aproxima o momento decisivo de sua defesa final, estão as colaborações mais decisivas: o exame de seu trabalho final.
Entre 2013 e 2016, por 380 vezes o EGC pediu a um examinador que analisasse uma tese ou dissertação e emitisse seu parecer na sessão de defesa. São diversas horas dedicadas à leitura de um documento que busca expressar o resultado de um trabalho de anos e poucos minutos para, na sessão de defesa, não só emitir um parecer, mas, também, contribuir com melhorias para que o documento final faça jus à sua trajetória acadêmica.
E para agradecer a todos os docentes do Programa que se dedicam a essa imprescindível atividade, gostaríamos de chamar os professores que mais participaram de bancas como examinadores nesses últimos 4 anos:
Prof. FRANCISCO FIALHO
Profa. GERTRUDES DANDOLINI
Prof. JOÃO ARTUR DE SOUZA
Esses mestres estiveram presentes em 22% de todas as bancas do Programa nos últimos 4 anos e, em colaboração com
os demais colegas examinadores, ajudaram a avaliar as teses e dissertações!
Por favor, uma salva de palmas de agradecimento!!!

 
Além dos quatro prêmios docentes baseados nas atividades de orientação, coorientação, carga letiva e bancas, a premiação incluiu o “Mestre Referência”. Para definir quem seria premiado nesta categoria, foi feita uma consulta para o conjunto de alunos do Programa. Eles deveriam citar os dois professores que vinham à mente deles quando eram perguntados sobre o docente que melhor representasse a identidade do EGC.
Diferentemente do que poderia se esperar, apenas um dos dois nomes mais citados estavam entre os demais premiados – na categoria “Mestre Educador”. O outro nome está entre os professores do grupo criador original do Programa e que, além de ter tido dois períodos de coordenação, mantêm-se responsável pela verificação da aderência dos trabalhos ao objeto do programa.

Impacto do reconhecimento e desafios futuros

A entrega dos prêmios discente e docente foi feita durante o evento de planejamento estratégico do Programa, ocasião em que também foram realizadas as discussões de futuro, a elaboração de projetos e propostas para a busca da evolução do EGC. Por terem sido entregues nesta ocasião, esses reconhecimentos deram ainda mais ênfase ao que se considera como trabalho de qualidade.
Com o reconhecimento que fizemos ficou claro que tanto a premiação docente como a discente são parâmetros para que a comunidade acadêmica de um pós-graduação reflita sobre o que considera dedicação, empenho e resultados de qualidade.

Prof. Neri dos Santos confere suas duas homenagens ofertadas pelo EGC/UFSC pela trajetória de dedicação ao Programa – Crédito da foto: Eduardo Trauer©

Nem mesmo a Comissão Organizadora previa a receptividade e impacto organizacional que a edição e a entrega dos prêmios representou no dia do Workshop do Programa para os agraciados. Apesar do reconhecimento ter sido algo simples (um certificado), era muito evidente a satisfação e gratidão daqueles que foram reconhecidos e, especialmente, a aprovação de todos os demais aos reconhecimentos (como se pôde comprovar nas efusivas palmas e ovações em cada chamada de um premiado).
Para o futuro, além da continuidade do reconhecimento institucional pelo trabalho bem feito, fica o desafio ao Programa de manter o reconhecimento por desempenho acadêmico de forma plural e multi-institucional. Um programa de pós-graduação é feito de docentes, alunos, técnicos, colaboradores, pós-doutorandos, examinadores, visitantes e, também, egressos.
Por isso é importante que se reconheça, também, os egressos que têm se destacado, os examinadores externos, visitantes mais contributivos e os pesquisadores que melhor aproveitaram o período de pós-doutoramento no Programa. São modalidades que poderão fazer parte do elenco de reconhecimentos futuros do EGC e que podem ser importantes para outras instituições e programas que queiram criar um instrumento para promoção de uma cultura de reconhecimento organizacional.
 

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